As praias de Tolkien


 

No dia de hoje, 03/01/2024, há quase 131 anos atrás, nascia o John Ronald Reuel Tolkien; um inglês que em nada viveu ou poderia inspirar uma vida de um pobre no Brasil da década de 1990. Mas que, não obstante, me abriu muitas janelas para a imaginação.

 

As praias de Tolkien –

 

No iminente ocaso da grande batalha de Minas Tirith, nos Campos de Palennor, seiscentos mil orcs cercavam vinte mil homens livres, e no topo, Gandalf: o Branco, aguardara a sua morte com o pequenino Merry, um hobbit perdido.

Em meio a aflição pela chegada da derradeira hora, na qual apenas a vã valentia faria sentido, o pequenino questionou ao mago branco, incrédulo de que o seu fim, vindo do Condado, fosse ali, daquela forma.

Gandalf, que não era apenas um velho mago, mas um sujeito pontual que era um quinhão de Deus, que viverá dezenas de gerações antes dos hobbits, que nascera no início do tempo, quando o mundo fora criado; disse:

– Não, a jornada não acaba aqui. A morte é apenas um outro caminho que todos devemos tomar. A cortina cinza deste mundo se enrola e tudo se transforma em vidro-prata. Então você vê...

– O quê? Vê o quê Gandalf?

– Praias brancas... E o além, campos verdes molhados pelo leve toque da brisa de um belo amanhecer.

Mas Gandalf sabia que a dádiva de Merry ele jamais conheceria – Gandalf não era um filho de Deus, ou de Ilúvatar – segundo o mundo que Tolkien criou; Gandalf era uma manifestação do criador para um mundo de criaturas que escreveriam a sua própria história.

Gandalf era um Istari: um espírito angelical, imortal enviado pelos Valar, deuses ainda mais próximos do criador do que ele mesmo: um anjo, ou semideus, talvez, enviado para ajudar a construir o mundo – para organizar os homens livres da Terra contra o último e mais forte suspiro das forças malignas sobre a Terra.

Gandalf, ou Olórin para os deuses, ou Mithrandir para os elfos, imortal que era, diante da morte do seu corpo físico, sabia que renasceria onde haveriam praias brancas e campos verdes molhados, para tornar a ajudar a constituir a história do mundo.

Merry era um mortal, como todos nós, um filho de Ilúvatar, cujo destino nenhum sujeito poderoso poderia prever, cujo espírito, após a morte, jamais renasceria em praias de areias brancas, cujo espírito ninguém sabia para onde iria – nem mesmo o sábio Gandalf.

É uma tragédia que o mago branco soube muito bem enflorar. Mentiu para o pequenino Merry, para que lutasse com coragem e honra em seus últimos momentos. Gandalf não sabia o destino dos hobbits após a sua morte, mas sabia que ele deveria aproveitar com tudo o que tinha o tempo que lhe fora dado, para que a história fosse contada e recontada por século – e eu acredito que essas histórias perdurarão por muitas gerações ainda.

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